Vai para a academia, toma banho, faz as unhas, coloca uma roupa, tira aquele pelo indesejado da sobrancelha, troca a camisa, passa uma base para cobrir as espinhas, tenta outra camisa... Esta poderia ser a rotina de qualquer garota numa sexta-feira à noite, mas não. É o ritual pelo qual muitos meninos passam hoje, preparando-se para a noitada. Está duvidando? Os amigos Caio Fábio Chamlian e Rafael Colombo, por exemplo, não saem de casa sem o mínimo:
- Tem que fazer as sobrancelhas e as unhas, né? É importante estar bem consigo mesmo. Quando vejo uma pessoa que não se cuida, percebo que ela não se dá valor. Então, como ela poderia dar valor para mim? - questiona o paulista Caio, de 23 anos, recém-formado em Direito.
Namorando há seis meses, ele garante que as meninas são as primeiras a notar:
- A maioria das mulheres me elogia por isso. É até uma maneira de me aproximar delas - ri o rapaz, que já fez até cirurgia para diminuir a produção de suor.
Já o seu ex-colega de faculdade Rafael curte usar cremes para o rosto, corretivo nas olheiras, além de pomada no cabelo. E, claro, demora longas horas escolhendo o que vestir.
- Quando meus amigos marcam um horário para se encontrar, já perguntam: "Vai ser às 22h mesmo ou 22h estilo Rafael?". Adoro comprar roupa, tenho um apartamento em Miami e, sempre que vou lá, volto carregado. Ter muita opção dá nisso. Também sempre ligo para os amigos e pergunto como eles vão a uma festa. Não quero destoar da galera -- conta o paulista, que, mesmo quando está namorando, não relaxa nos cuidados, "para não perder para a concorrência".
Mesmo os cariocas, sempre famosos pelo modo quase desleixado de se vestir, estão mudando de comportamento. Grifes que têm o Rio no seu DNA agora já podem ousar nas modelagens.
- Quando começamos a vender camisas com grandes decotes em "V", há cinco anos, era um produto estereotipado, cheio de preconceitos. Até meus sócios me questionaram se era aquele o caminho que eu gostaria de dar à marca. O resultado? A "deep V-neck" virou um sucesso de vendas - lembra Rony Meisler, diretor criativo da marca Reserva.
O carioca Lucas Gibson não tem pudor de admitir que, antes de sair para a Hideaway ou para o 00, faz umas 50 flexões em casa, para ficar com o braço mais forte. Entre as aulas na faculdade de Direito da Uerj, ele encaixa a academia e as aulas de boxe cinco dias por semana.
- Vestir terno e ver que está apertado é uma satisfação. Gosto de pensar que fiz o que podia para ficar atraente. Mesmo que o efeito não seja tão óbvio, me sinto mais seguro - confessa o garoto de 18 anos, que também não dispensa o aparador de pelos: - Assim dá para ver melhor os músculos.
Para o vestibulando Vitor Bonanno, além da malhação, uma base para esconder as espinhas é de lei:
- Fico mais seguro para partir para o ataque, e é isso que as meninas notam: a atitude. Quando estou comprometido, relaxo um pouco. Até tomar um puxão de orelha da namorada e voltar para a linha.
Quer entender a linha do tempo da vaidade masculina?
Na Grécia, em Roma e no Egito antigos os homens não só eram os ícones de beleza, como também vaidosíssimos. Nem precisamos ir tão longe. Ali nos séculos XVIII e XIX (no caso dos dândis), os homens usavam mangas bufantes, golas enormes e até perucas.
- Na Antiguidade, o corpo masculino era supervalorizado. As mulheres, inclusive, quase não eram tão representadas em esculturas ou pinturas. A inserção delas no universo da beleza só aconteceu da Idade Média para cá - explica a psicanalista Joana Vilhena de Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC-Rio, lembrando ainda que os faraós egípcios se maquiavam para esconder as imperfeições.
E por que a partir do século XX os homens passaram a se arrumar com mais discrição?
- A repressão sexual veio forte, e a virilidade passou a ser transmitida por meio dessa aparência mais austera - diz Joana.
Com o nascimento do novo milênio, a vaidade masculina ganhou um padrão diferente. Saem de cena os corpos extremamente musculosos dos anos 80 e entram Robert Pattinson e Justin Bieber, os meninos que, de tão sensíveis, se parecem com meninas.
- O homem atual pode voltar a se preocupar com a estética. Isso o deixa mais conectado ao universo feminino, o que é essencial para uma aproximação com a mulher contemporânea. Passa a ser valorizada a silhueta mais longilínea, a franja... A imagem do homem que fica em casa tomando cerveja enquanto a mulher vai à academia caiu por terra - conclui.
Fonte: O Globo
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